8 de out. de 2018

Era uma vez... ou A estória do homem, do rato, da raposa e da hiena.




Era uma vez uma comunidade que não era a melhor comunidade, nem a mais prospera, mas era grande e seu povo tranqüilo e decidido a fazer sua prosperidade se igualar ao seu tamanho.


Esta comunidade criava galinhas e durante muito tempo conviveu com os ratos roubando os ovos, mordiscando as galinhas e às vezes até roubando pintinhos. Era o que se esperava, era o normal e o conhecido, mas o tempo foi passando e todos se impacientavam, pois apesar de prosperar não era tão rápido como esperavam.

Para resolver o problema fizeram uma reunião para decidir o que fazer.

“A culpa é dos ratos, se não houvessem ratos haveriam mais galinhas e mais ovos.”

“Pode ser, mas não adianta discutir sobre isso sendo que sempre haverão ratos.”

“Não se contatarmos as raposas e pedirmos que eliminem os ratos. Podemos oferecer dividir o território com elas como fazemos hoje com os ratos e elas cuidarão do problema para nós."

“Mas ratos são pequenos e se nós nos reunirmos e acabarmos com os ratos ladrões, os outros terão medo e se comportarão.”
“Mas as raposas estão há muito tempo nos propondo dividir o território. Nos prometeram cuidar do problema dos ratos e nos ajudar a melhorar de vida.”
“Mas quem alimentará as raposas? Quantas virão?”

“Não importa quantas virão, nós que mandamos no território. É nossa escolha, não é? Elas terão que se comportar como ordenamos.”

“Muito arriscado....”

Foi então chamada uma votação e as raposas ganharam sua chance de dividir o território. Houve festa naquele dia, homens e raposas felizes sonhando com um futuro melhor. No dia seguinte as raposas caçaram alguns ratos, mas logo desistiram. Somos maiores, pensaram, e agora esse é nosso território, deixe que os ratos fiquem com as migalhas que sobrarem.

Os dias passaram e em vez de progredir a comunidade regrediu. As raposas, preguiçosas e finalmente parte do território convidaram toda família para se banhar no lago, comer da comida do homem e dormir ao sol. Os ratos, se aproveitando que as raposas não se importavam de dividir, contanto que fossem superiores aos ratos em status, continuaram roubando ovos, mordiscando as galinhas e roubando pintinhos.

As raposas, não satisfeitas com as refeições dadas pelo homem, começaram a caçar as galinhas e quando indagadas sobre o numero cada vez maior de sumiços elas culparam os ratos.

“Mas vocês não vieram para acabar com os ratos?” Perguntou o homem irritado.

“Ah, não é fácil. O rato é esperto e mesmo nós, imbatíveis e inteligentes raposas, não damos conta de todos eles. Não é nossa culpa. A culpa é do homem que aceitou dividir o território com os ratos primeiro. Se houvessem chamado as raposas desde o inicio já seriam ricos.” Disse a raposa palitando os dentes com um osso de galinha.

E os dias continuaram a passar e o homem a empobrecer, alguns já com os galinheiros vazios, vagavam pelas ruas sem saber o que havia dado errado. As raposas ficaram gordas e confiantes e cada vez que o homem reclamava elas rosnavam e o culpavam pela ruína da comunidade. Os ratos, não tão gordos, mas ainda felizes com sua sorte, esperavam nas sombras o momento de ganhar novamente a confiança do homem.

Com a comunidade quase em ruínas uma reunião foi marcada e os homens se reuniram novamente.

“As raposas mentirosas estão gordas com nossas galinhas, trouxeram toda família e agora nem mais disfarçam que estão mais prosperas que nós. Os ratos continuam se alimentando sem interferência. Não temos mais o que fazer!”

“Temos o elefantes.”

“Você está louco? Elefantes? Quem vai alimentar um animal desse tamanho?”

“Eles não querem que os alimentemos. São animais que prosperaram sozinhos e agora querem nos ajudar para que estas terras continuem férteis.”

“Duvido... Alguma coisa querem.”

“Eles querem que o mundo melhore. Se nossa comunidade continuar a desmoronar a terra em volta também sofrerá. Sabendo disso eles nos ajudarão contanto que não façamos mais acordos com os ratos ou raposas.”

“Não sei... acho suspeito. Não confio em animal que é rico.”

“Eu tenho outra proposta. As hienas me contataram.”

“Hienas? Você ficou louco?”

“Elas são fortes e sanguinárias. Não teriam problema em matar todos os ratos e raposas. Prometem-nos também que cuidarão do território para que nenhum animal mais o invada.”

“Mas hienas não são confiáveis. Elas são más e odeiam todos os outros animais. Quem nos garante que ela matarão somente os mal intencionados?"

“E importa quem morrer contanto que nós vivamos?”

“Sim, importa. Não quero ser responsável pela morte de animais inocentes.”

“Com a comunidade no estado que está eu não me importo que aja derramamento de sangue se nos trouxer prosperidade.”

E assim foi votado e as hienas ganharam entrada no território. Da noite para o dia as ruas ficaram encharcadas de sangue. Raposas e ratos jaziam mortos por todo lado e os homens, horrorizados, se trancaram em casa esperando o pior passar, mas parecia não ter fim. Qualquer animal que se aproximasse da fronteira era caçado e despedaçado, mesmo aqueles que haviam acabado de nascer.

Os homens foram arrancados de suas casas e ordenados a trabalhar. A comunidade tinha que crescer e era obrigação dos homens fazer do território um lugar feliz para as hienas.

A comunidade acabou isolada do resto do mundo, somente as hienas sabiam o que se passava lá fora, ninguém mais sorria, ninguém mais tinha coragem de tentar conseguir ajuda, seja dos elefantes ou até mesmo dos rinocerontes, pois as hienas puniam a todos que não estivessem satisfeitos com a vida que diziam ser perfeita para os homens.

As casas perderam a cor, os homens perderam o viço e com o tempo toda estrada que levava a eles foi tomada pelo mato.  As galinhas já não punham ovos e, portanto as hienas as mataram por não obedecer suas ordens. Tarde demais os homens perceberam que existem animais que gostam de sangue, gostam dos gritos de terror e do medo que escorre pelos poros. Ainda tentaram se proteger, se barricar em suas casas, cada um por si, mas as hienas eram fortes e não restava mais nada para encher as suas barrigas.

Quando o ultimo grito do ultimo homem soou, as hienas riram seu riso insano e partiram a procura de outra comunidade que acreditasse que ódio e sangue eram o caminho para a paz.



25 de set. de 2018

A minha ditadura.




A justificativa de muitas pessoas para apoiarem um retorno à ditadura é que viveram muito bem naqueles tempos. Não sentiram o peso do chicote e da injustiça porque são “boas pessoas com nada a temer”.

Quando criança também não senti, toda minha família não sentiu. Éramos, e somos ainda, pessoas simples, trabalhadores honestos com preocupações mundanas de sobreviver ao dia a dia da melhor maneira possível e no meio tempo nos divertimos uns com os outros em nossa simplicidade.

Na minha adolescência não senti, nem minha família. Continuávamos vivendo simplesmente, fazendo o possível para sobreviver, o que era cada vez mais difícil.

E então meu pai faleceu de maneira súbita, tão jovem que só tive noção de quão jovem ele era quando atingi a idade em que morreu, meros 39 anos.

Em menos de 15 dias me vi adulta. Com 17 anos me vi obrigada a encarar uma vida a qual não estava preparada. Ser responsável por uma família, pagar aluguel, colocar comida na mesa, esta era minha nova realidade.  De caçula da família passei a chefe de família e apesar de ser a morte de meu pai que me levou a minha nova realidade, não foi uma realidade trágica. Difícil? Sim, mas em pouco tempo me fez perceber que eu era mais do que sempre acreditei.

Naqueles tempos cada vez mais difíceis, o final da ditadura, foi onde eu aprendi que minha vida até ali tinha sido resguardada e que tivera muita sorte em viver simplesmente. Conheci pessoas engajadas na política que me mostraram o que havia de errado em um mundo sem liberdade. Eu, inocente, nunca havia percebido, vivia em um mundo protegido por nossa simplicidade.

O mundo mudou e eu aprendi cada vez mais. Tornei-me uma pessoa que fala o que pensa sem medo de represálias, que escreve o que pensa sem medo de represálias, que age como quer sem medo de represálias. Cresci como ser humano, trabalhadora e mulher nesta democracia agora ameaçada.

Sou classe média e me orgulho disso. Quando meu pai faleceu estávamos quebrados, mas meu irmão e eu conseguimos achar nosso lugar no mundo sem ajuda de ninguém. Com nosso esforço e dedicação fizemos, dos escombros em que fomos deixados em 1981, um lar.

E então chegamos ao agora. Século XXI, tecnologia avançada, o mundo encolhido para caber em um monitor de laptop e vejo tudo que passei para chegar aqui ameaçado.

Não consigo entender nenhum dois lados nesta batalha. A esquerda se provou falha, corrupta e mentirosa. Seu discurso velho de ódio à classe média e a favor dos pobres e necessitados, quando eles vivem no luxo que nós da classe média lhes proporcionamos com nossos impostos, é para mim revoltante. Enquanto pregam o ódio àqueles que levam o país nas costas, suas famílias sem educação e cultura, se banham em ouro e riem dos que ainda acreditam neles.

A direita é para mim ainda mais incompreensível, pois eu entendo os que apoiam a esquerda achando que miraculosamente vão trocar de lugar com a classe média sem ter que levantar um dedo para isso. Alias nunca vi alguém da esquerda dizendo que quer trabalhar duro para conseguir melhorar de vida, como eu fiz, só o que vejo é pessoas querendo viver às custas do esforço alheio. Ayn Rand sabia bem do que falava.

Mas voltando à direita...

Vejo amigos queridos apoiando um homem colérico que diz que é a favor da tortura e que a morte de inocentes não é nada se ele atingir seu objetivo. Porque não se engane, é somente o seu objetivo que importa. Um homem que já disse em mais de uma ocasião que fechará o congresso e trará de volta a ditadura, onde pessoas acostumadas a falar o que querem em suas paginas do Facebook serão provavelmente presas e torturadas por terem opinião.

Este homem odeia. E ele odeia tantas coisas que não imagino o que sobraria de seu reinado. O que mais escuto de seus admiradores é que nós, as mulheres que não o suportam, somos esquerdistas e andamos nuas pelas ruas fazendo protestos toscos. Desculpem, não é assim. Mulheres como eu, que lutaram a vida toda para ser aceitas como profissionais, que deram duro por sua família, mas que ainda sempre ganharam menos do que os homens em mesmas posições, sabem que se este homem ganhar voltaremos aos anos 50. Ele nos tirará cada centímetro que ganhamos em nossa luta pela igualdade.

Feminismo não é uma palavra chula. Não nego que acredito que muitas mulheres a usam de forma errada. Feminismo para mim é a luta por ter meus valores, crenças e habilidades reconhecidas pelo que são e não pelo meu gênero.

Seus outros desafetos, homossexuais, negros, índios e afins, sofrerão ainda mais, pois nós mulheres ele simplesmente considera inferiores à sua grande pessoa, mas os outros são uma ameaça a sua mente pequena e “cristã”. 

A ditadura que vivi não me afetou. Vivíamos pequeno demais para incomodarmos quem quer que seja, mas hoje tenho uma voz. Uma voz que gosta de dividir pensamentos como estes e tremo de pensar que alguém me calará. Não quero calar. Não quero ver minha voz, pequena que seja, perder a liberdade de expor opiniões. Não quero que pessoas que amo percam o direito às suas vidas porque são gays. Não quero um homem ditando o que todos devemos fazer sem se importar com nossos desejos.

Quero acredita que as pessoas que o apoiam não fazem idéia do que realmente acontece em uma ditadura. Talvez tenham vivido pequeno como eu ou, se jovens, nunca se deram o trabalho de se informar. Mas, conhecendo a humanidade, talvez estejam agora deixando o mundo ver o quanto odeiam, o quanto são preconceituosos e maldosos, achando que estão salvos, em sua escolha, dos horrores que ele trará.

Ditadura. A palavra basta, ou deveria, para expor o quão errada é.

19 de set. de 2018

O que te incomoda no amor?




Uma das coisas que me espanta nos dias de hoje é como saíram de seus buracos as pessoas preconceituosas e o que as incomoda. Gays, negros, índios, orientais e até mesmo nós, simples mulheres os incomodamos profundamente.
O homossexualismo não é uma novidade. Sempre existiu e somente o que mudou com os milênios, graças a Deus, é que um homossexual pode amar abertamente. E isso parece incomodar certo tipo de pessoas de uma maneira incompreensível.

Amor para mim é amor. Não interessa para mim quem você ame, contanto que o faça e assim possa se sentir mais completo. Homossexualismo não é uma doença como muitos querem fazer acreditar, é algo que nasce com você e o que se torna uma doença é quando é obrigado a negar quem é para agradar uma sociedade que não tem merda nenhuma a ver com sua vida.

Todos fanáticos ofendidos com a opção pessoal de vida dos outros citam a bíblia. Eu acredito em Deus e não na bíblia. Todo livro escrito pela mão de homens devem se tomados com seu grão de sal. Mesmo que acredite que as palavras impressas vieram de Deus é como acreditar na mensagem final da brincadeira “telefone sem fio”, onde alguém passa uma mensagem no ouvido da pessoa ao seu lado em sussurros para ser passada para frente incontáveis vezes até perder todo seu significado original.

Digamos que possamos ignorar estes mal entendidos na mensagem enviada, o que não podemos ignorar são as convicções pessoais do individuo que transmitiu a mensagem. Somos falhos, nós humanos, e uma das falhas e imbuir nossos pensamentos nos pensamentos alheios, é ler a “mensagem” da maneira que nos convém.
Para mim qualquer pessoa que acredite cegamente em outra, que siga seus passos mesmo que falhos, tem um grande problema.

Mas, vamos lá, você é devoto e acredita cegamente na bíblia e portanto condena o homossexualismo. Ok, seu direito como pessoa, mas porque o ódio? Quando você odeia com tal veemência alguém diferente de você esquece tudo aquilo que diz acreditar, pois uma das coisas mais linda que existe na bíblia é “amar seu próximo como a si mesmo”. Não diz que deve amar somente os iguais a você.

Quando escuto pessoas, que conheço, e me decepcionaram profundamente nos últimos tempos, dizendo que não é natural ser homossexual, sei que estas pessoas são falhas em uma parte de sua pessoa que nunca poderá ser recuperada.

Mas vá lá, é seu direito achar isso também. E então vêm as acusações de que homossexuais são promíscuos. Promiscuidade não é uma característica única aos gays, muito pelo contrario, mas talvez eles sejam mais abertos sobre isso, ao contrario de bilhões de heteros que se escondem por trás de fachadas nobres e entre quarto paredes são não só promíscuos como pérfidos.

Em um mundo que parece se esgarçar pelas pontas, se uma pessoa é gay, hetero, negro, índio, oriental ou o que seja, não devia ser uma das preocupações, mas mentes pequenas atraem mentes pequenas e em vez de se lutar por melhor qualidade de vida, mais empregos, menos políticos corruptos, estas pessoas pensam em excluir qualquer um diferente delas, como se o mundo nunca tivesse sido povoado por nada alem de seus iguais.

Isto, meus caros, é a o que chamam ditadura, o que muitos apoiam hoje em dia e que demonstra o que de pior temos na humanidade.

Não escrevo para converter ninguém, mas porque me entristece profundamente ver no que nos tornamos.

18 de set. de 2018

A alma de Diógenes.



Falo muito sobre fotografias, pois elas são para mim mais do que importantes, como já disse muitas vezes.

Nunca pude estudar este hobby que me encanta, mas fotografo mesmo assim e pra ser sincera sou bem jeitosa com a câmera e o que aprendi com meus 55 anos é que tem pessoas que tiram fotos e pessoas que fotografam com a alma.

Tenho um amigo, gosto de chamá-lo de amigo, pois seus gostos e opiniões são próximos aos meus, mas na verdade ele é amigo de uma amiga que virou um amigo querido. Acho que deu para entender, não é? Não quero chamá-lo de conhecido, pois isso denotaria que não existe emoção ou empatia e ele é mais que isso. Portanto, amigo é.

Diógenes fotografa com a alma e acho que é uma das únicas pessoas entre meus amigos do Facebook que saio de meu caminho para ver o que anda fazendo. Porque a alma dele é, oh, tão bela.

Cada foto dele conta uma historia. É fácil perceber como ele se encanta com as formas, os reflexos e as luzes da cidade. Nunca vi alguém fotografar o São Paulo de hoje com tanto carinho.

A foto que me inspirou este post é em Paris, por onde ele andou ultimamente e onde nos mostrou o encanto da cidade da luz em uma série de fotos bem ao seu estilo. Únicas.

Não é a mais bela foto entre elas, mas é uma que demonstra o que penso sobre ele.

Ele está à beira do rio, ao lado da Catedral de Notre Dame ele nos diz, o dia não está ensolarado e se puder adivinhar pelo movimento da água, de um verde garrafa profundo, a brisa deve estar agitando as folhas das arvores que vemos ao longo da margem. As barcaças estacionadas ao longo do rio parecem tão boemias e convidativas que a vontade e mergulhar na fotografia para nunca mais voltar.

Imagino o querido Diógenes contemplando esse cenário, cotovelos na amurada que cenicamente, aqui e lá, tem plantas se agarrando e escorrendo em direção ao rio. Ele vê absolutamente tudo antes de fotografar. Não ergue seu celular e tira uma foto somente para dizer que esteve lá. Ele ama o céu acinzentado, a água turva, as barcaças momentaneamente estacionadas e o ar que o envolve. Ele respira a cena completa antes de fotografar e a cada vez que ele olhar essa imagem ao longo dos anos, aposto, que lembrará da sensação do momento e do prazer que sentiu em estar lá.

Caro Diógenes, obrigada por sempre me levar com você aonde quer que vá. Aprecio o passeio mais do que posso te dizer. Através de suas lentes o mundo é muito mais belo.

3 de set. de 2018

Meus sentimentos...



Mais um museu atacado pelo fogo, mais do patrimônio cultural do país perdido. Ouço muitas vozes indignadas hoje e estou com elas, mas me alio àquelas que também carregam uma tristeza imensa sabendo que este é um caminho que provavelmente não terá volta.

Não somos um país culto, não somos mais um país educado para dar valor a historia ou a arte. Não somos mais um país que dá valor à educação. Estamos ao relento, sem rumo, sem noção.

O pior deste cenário é que as pessoas parecem se orgulhar de não terem ambição de crescer social ou culturalmente. Os esforços feitos hoje em dia pela grande parte da população é para serem capazes de fazer o mínimo possível, contribuindo o mínimo possível para o crescimento do país, aprendendo o mínimo para sobreviver fazendo o mínimo esforço em um pais para sempre anão.

Num país como este o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro não é uma tragédia, é o esperado de um país que não valoriza mais nada, onde políticos e pastores pregam o ódio e o preconceito, onde crianças mandam em seus pais e crescem pensando ter direito a tudo sem mérito nenhum, onde professores são espancados por alunos, onde o governo trabalha para encher os próprios bolsos mesmo que isso acabe com o país, onde as ideologias são cada vez mais deturpadas e as pessoas cada vez mais cegas.

É neste momento, divididos entre os que querem viver confortavelmente dos frutos do trabalho e da inteligência de outros e entre os que prezam uma ditadura onde a liberdade é somente uma palavra no dicionário, que estamos vendo a falência do Brasil.

Aqueles poucos que lutam por uma vida melhor com suas próprias forças, que trabalham incansavelmente mesmo que os dias pareçam sombrios, aqueles com mentes brilhantes e claras são poucos, infelizmente, mas, felizmente, ainda lutam e tentam fazer ouvir suas vozes. É com estes que minha fé está, eu que nunca recebi nada de graça, que trabalhei e paguei impostos toda vida, que tentei aprender o máximo possível com pessoas melhores que eu. Tenho fé nesta classe odiada, a classe média trabalhadora que carrega o país nas costas enquanto esquerda e direita cospem seu ódio e vomitam mentiras. 

Neste dia triste onde perdemos tanto de nossa historia conto nos dedos os que sinceramente lamentam o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro e é a vocês que eu digo: meus sentimentos.

28 de ago. de 2018

A era da falta de caráter

A falta de atenção das pessoas hoje em dia me assusta, mas não somente isso, o que me assusta mais é a maneira como as pessoas se isentam de responsabilidade nos acidentes causados pela tal da desatenção, que geralmente é causada pelo maldito celular.  

Dia 28 de junho estava eu aguardando no semáforo vermelho, seta ligada para virar à minha direita e quando o dito semáforo me deu luz verde imediatamente avancei entrando à direita como minha seta indicava. Qual é minha surpresa quando uma carro avança pela minha esquerda e entra em cima de mim como se o semáforo não estivesse vermelho à dois segundos, como se eu não estivesse ali de seta ligada para entrar e como se a pessoa não estivesse prestando a mínima atenção no que estava acontecendo.  Desço do carro bem brava, afinal que raio que esta pessoa estava fazendo que nem em viu?

A dita pessoa, uma tal de Alessandra Corá, desce do carro de celular na mão, mal me olhando, claro, mais preocupada com ela mesma do que com o dano que causou começa a inventar desculpas, que achou que eu estava estacionada (e a seta? E o semáforo vermelho? Nem viu?) Depois começou a choramingar que o carro havia acabado de sair da oficina. Devia ter desconfiado ai que o carro da senhora Alessandra Corá deve ir muito para a oficina já que ela não presta atenção ao que faz.

Mas burra que sou fiquei com pena e a deixei i, pois estava tremendo e disse que seu seguro cuidaria de tudo. Sei....

Passam os dias e ela nada faz, diz que seu corretor me ligará. Não o faz. Passam mais dias. Reclamo e me liga um tal de Mario da Said Corretora me dizendo que o seguro recusou pois segundo o relato dela não fora sua culpa.
Então vamos lá........ A senhora Alessandra Corá alem de desatenta é mentirosa. Não só mentirosa como sem caráter nenhum, pois mandou uma pessoa me ligar e mentir para mim dizendo que o seguro havia vistoriado o carro dela e dito que o dano não era culpa dela. Como podem dizer isso sem vistoriar meu carro? E o tal Mario se ofende quando eu, a parte ofendida no negocio, reage com um “mas que sem vergonhas”. Bem, porque o são, não só ela que continua a não responder como um corretor que se presta a mentir desse jeito. Ele, todo ofendido por ter sido descoberto como sem-vergonha, me diz que se acho que fui prejudicada que procurasse o tribunal de pequenas causas. Lindo. Um show de retidão, caráter e moral. Dele e dela.
Passam mais dias, continuo insistindo e ela diz para eu entrar em contato com seu corretor. Isso claramente sem nenhuma intenção de se responsabilizar pelo acidente que causou.

Esta senhora Alessandra Corá trabalha num lugar que se chama Cultura Escrita e eu me pergunto como uma pessoa sem moral, caráter e senso de responsabilidade pode trabalhar com educação?


Moral da historia, meus amigos, quando uma dondoca em um carrão bater em seu carro e ficar choramingando tremendo, não tenha pena. Não a deixe fora de suas vistas até que ela assine uma carta na frente de um policial assumindo a culpa, senão ao virar as costas ela já estará maquinando como ferrar com sua vida.


20 de ago. de 2018

Look at this photograph....




Amo fotografias. Desde meus 15 anos, quando ganhei uma maquina fotográfica da minha mãe, aonde vou sempre carrego uma e tento guardar o máximo de lembranças que posso. Quando o coração pesa e a saudades bate é uma das maneiras de ter os que já foram por perto. Quando a vida fica difícil é uma das maneiras de lembrar os bons momentos. Quando o mundo se resume à sua janela é uma das maneiras de lembrar por todos os lugares por onde passou.

Sem fotografias nossa vida seria incompleta, muitas coisas seriam esquecidas, muitas pessoas esvaneceriam em nossa memória e muitos momentos mágicos ficariam fadados aos truques da nossa memória.

Sendo assim eu fotografo. Simples fins de semana, uma noite com amigos, uma viagem esperada, um lindo por do sol. Tudo que para mim é digno de nota merece uma fotografia para que no dia que minha memória falhar eu possa continuar completa.

Sempre sonhei em aprender a fotografar a sério, mas nunca tive oportunidade e invejo aqueles fotógrafos que transformam bolhas de sabão em mini universos e uma poça d’água em um mundo completamente novo. Mas não é preciso uma lente potente quando o que se quer é somente preservar o sentimento do momento. Não depende da marca de sua maquina ou celular ou de sua habilidade, depende somente de sua ânsia em guardar o mais perto de seu coração aquele momento único e perfeito.

Tenho milhares de fotos e todas elas dizem algo para mim, mas nunca, nunca mesmo, deixei de vivenciar um momento para tirar uma foto sem significado. Posso dizer que minhas fotos são pós. Pós-momento, pós-emoção, pós-encontro. Quando vejo algo belo eu o aprecio primeiro ao vivo para depois registrar, assim quando buscar a imagem congelada daquele pós-momento sei o que me levou a ele.

Mas eu não gosto somente de minhas lembranças, gosto também de ver as fotografias de meus amigos, ver que momentos lhe são preciosos e a cada dia percebo que fotografias perderam seu significado para muitos. Não são mais preciosidades que aquecem o coração, mas somente uma maneira de mostrar aos outros onde estiveram, o que comeram e quem encontraram, sem emoção, tudo pela informação, tudo para estar em dia com seus 3472 amigos do Facebook . É preciso mostrar felicidade, nenhum momento mais é privado.

É um pouco triste também.

6 de ago. de 2018

Parece o fim do mundo...



Não consigo confiar em pessoas que parecem cães raivosos. Todas suas ações são violentas e incitam os ao seu redor às piores reações. Bolsonaro é uma destas pessoas. Apela para aqueles que são, como ele, machistas, homofóbicos, preconceituosos e ignorantes. Me dá medo.

Bolsonaro é um Trump mirim, sem graça, sem classe, sem inteligência, sem respeito, sem pé nem cabeça. O que mais assusta é que muitas pessoas acham fantástico ter alguém que odeia tanto, tem tanta ânsia de punir seja a quem for e que obviamente não está nem ai para o país, mas, como todos os outros políticos que conhecemos, para aumentar seus recursos e sua (má) fama.

Eu até entendo o que as pessoas vêem nesse cara. Hoje em dia o numero de crentes fanáticos cresce a cada dia e parecem todos prontos à viajar no tempo onde a mulher era um nada à esquerda e homossexuais não existiam (sei...). Fora os crentes temos aqueles cansados dos assaltos, dos moradores de rua, dos imigrantes e Bolsonaro é messias que nos livrará de todos eles.

Sou mulher, por principio já odeio o cara que parece ter tanto respeito por nós como por uma barata. Tenho muitos amigos homossexuais, portanto já o desprezo, pois quer fazer acreditar que estes são menos humanos do que sua nojenta pessoa. Sou humana, portanto, apesar dos inconvenientes que muitas vezes nos trazem, não posso deixar de sofrer junto àqueles que perderam seu caminho e moram nas ruas ou aqueles que fugiram de uma vida terrível tentando uma vida melhor em outro país e não entendo alguém sendo cruel sem pensar no orgulho que estas pessoas têm que engolir todos os dias para sobreviver.

Mas este é Bolsonaro, nosso Trump mirim que quer ser o novo ditador do Brasil, como se já não estivéssemos sofrendo o bastante com o reinado PT que nos jogou escada abaixo e deixou o país em ruínas.

O reinado da violência parece ter tomado conta do mundo. Todos querem ver sangue, mas esquecem que quando este começa a ser derramado é difícil parar e logo será sua vez de sangrar.

Nunca pensei que chegaríamos neste dia, dia em que tudo que aprendemos, tudo que evoluímos, tudo que superamos está para sumir como fumaça, pois a ignorância está superando o bom senso.

Não estou aqui pare dizer a ninguém como votar, mas só de imaginar um homem destes no poder, um homem que fala tão facilmente em matar, punir e reprimir, tenho calafrios de pavor.

Nessa hora só o que posso fazer é rezar, mas imagino que Deus está balançando a cabeça desconsolado, sem tempo para atender a minha prece pois o mundo inteiro parece ter perdido seu caminho.


31 de jul. de 2018

Tempo





Você percebe que o tempo passou de muitas formas. Quando jovem temos uma energia imensa, uma necessidade de agarrar a vida pelo pescoço e apressá-la em seu passo. Dormimos por longos períodos, recuperando o fôlego e quando acordamos somos imediatamente tomados pela necessidade de descobrir novas formas de galopar pela vida. 

Lembro-me como se fosse ontem de trabalhar por 12, 14 horas sem parar e ainda sair para dançar, varar a noite, voltar a trabalhar por mais 10, 12 horas e no fim de semana sucumbir ao sono, perdendo metade dos dias de descanso para Orfeu.

As semanas eram intensas, muito trabalho, mas também muita diversão. Muito raramente sentia meu corpo pedir por descanso e somente nos fins de semana me permitia dormir sem freio ou alarme. Acordava às 2 horas da tarde para um estomago roncando e a mente turva por algumas horas até consumir algumas canecas de café.

O tempo passa de muitas formas e você percebe isso quando vê seu corpo mudar. Ganhar forma, depois ganhar massa, seu rosto afinar e depois encher novamente com a idade, mas é na sua cabeça que a grande mudança acontece.  
Tenho pena da Eu jovem, como ela se importava com a opinião alheia, como se as pessoas não fossem capazes de odiar sem motivo, de prejudicar sem provocação. Era em si mesma que buscava o motivo das pessoas serem como eram e fazerem o que faziam, sem entender que ciúmes, inveja e pura maldade moram em muitas pessoas com rostos compostos e felizes. Essa busca interna por uma imperfeição que não existia só lhe trouxe problemas, problemas estes que a levaram a tomar decisões erradas, tentar comprar o amor das pessoas erradas e por fim se sentir errada em cada ato e pensamento.

Mas o tempo passa e sabemos que passa quando olhamos pra trás e vemos que muito sofrimento teria sido evitado se tivéssemos nos aceitado sem restrições, se não tivéssemos acreditado que outras pessoas conheciam nossos corações melhor do que nós mesmos. No fim, tudo é um aprendizado, nem sempre doce, nem sempre belo, mas um aprendizado que somente o tempo fazendo o que sempre faz, caminhando inexoravelmente para o futuro, o faz entender se melhor sem medo, sem terceiras opiniões e, por fim, quando sua cabeça repousa no travesseiro, sabe que a pessoa que levanta de sua cama a cada dia será sempre a mesma. Pode não ser uma pessoa perfeita, pode não ser uma pessoa amada por todos, mas com certeza será uma pessoa que olhou para todas as opiniões e viu que raramente estas estavam baseadas na realidade, mas sim na frustração das pessoas que acham que podem apontar suas próprias falhas em terceiros.

Durmo pouco agora. Ás vezes acordo no meio da noite e leio até o amanhecer. Já não tenho tanta energia, mas ainda faço o que é preciso antes das costas doerem e as pernas falharem, não importa o que seja. Caminho 5 km sem me cansar, apesar de ainda ficar com o rosto vermelho como sempre fiquei, mas caminho sorrindo,olhando meu bairro, conversando com pessoas que vejo todos os dias, mas que não disseram ainda seus nomes.  Gosto de ao fim do dia encontrar a mim mesma e descansar fazendo o que gosto, não o que esperam de mim. Não me incomoda a solidão, apesar de amar muitas pessoas, não vivo para elas, mas sim em sua companhia.

Tenho sorte em muitas coisas e nenhuma em outras, mas isso é a balança sempre se equilibrando e pendendo a cada grão de poeira que cai.

Quando o tempo passa, como ele sempre costuma fazer, percebemos que no fim poucas coisas importam, mas das que importam devemos cuidar com muito, muito carinho.

25 de jul. de 2018

Hercule Suchet Poirot

David Suchet como Poirot


Meu primeiro livro de Agatha Christie foi um protagonizado por Poirot e de todos seus personagens ele é ainda meu preferido.

Este homenzinho empertigado, meticuloso e egocêntrico, me acompanha por mais de quarenta anos. Não sei quantas vezes reli seus livros, mas sei dizer que a cada vez eles me deram muito prazer.

Todo leitor quando ama um personagem imagina o mesmo em detalhes e Poirot, que tem sua descrição em mais de meia centena de contos e romances, é muito “vivo” em minha mente.

Durante muito tempo esperei para ver meu Poirot e sempre me decepcionando. Não que Albert Finney, em Murder on the Orient Express de 1974, não tenha feito um belo trabalho, mas não era meu Poirot. Este Poirot, para mim, era mau-humorado demais, lhe faltava a finesse que é a marca do homenzinho, o sarcasmo polido que confunde aqueles com menos celulas cinzentas. Sua aparência também deixava a desejar, de alguma maneira o Poirot de Finley parecia mal-ajambrado.  Mas claro que amei ver minha Agatha e meu amado Poirot mesmo assim.

Nova decepção, mas das mais divertidas com Peter Ustinov em Death on the Nile de 1978, Evil Under the Sun de 1982, Thirteen at Dinner de 1985, Murder in Three Acts de 1986 e Dead Man’s Folly também de 1986. Todos estes filmes mais do que deliciam os fãs de Agatha, mas Peter Ustinov não é Poirot. Nem de longe. Ele é um, muito divertido, detetive, mas nunca Poirot.

Depois de algumas décadas de espera esbarrei em meu perfeito e vivo Poirot. Procurando séries inglesas para meu mano Urso descobri que desde 1989 o maravilhoso David Suchet encarnara o meu mais amado detetive e o continuou fazendo ao longo de 25 anos, contando as tramas dos 70 livros e contos que me deleitaram desde a adolescência.

Ele é mais que perfeito, é a encarnação do homenzinho mais irritante e amado do mundo. Mas não é somente Suchet que faz de cada uma das estórias uma pedra preciosa, toda a série foi feita com extremo cuidado. Fotografia, figurino, roteiro e direção são tão importantes quanto Suchet. Cada ator escolhido para contracenar com Poirot parece ter nascido para o papel (mas é o “mal” dos atores ingleses, sempre perfeitos) e a personificação de Capitão Hastings e Ariadne Oliver, companheiros de Poirot em tantas investigações, Miss Lemon, sua secretária perfeita e Chief Inspector Japp é também perfeita.

Depois de ver David Suchet dar vida ao mais do que difícil detetive, sei que nunca mais verei um novo Poirot como ele. Posso assistir a novas adaptações, mas somente como passatempo. Minha busca terminou. Poirot só existe um e este é David Suchet.


Merci, mon ami...

Hugh Fraser como Capitão Hastings 

Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver

David Suchet como Poirot
Pauline Moran como Miss Lemon
Philip Jackson como Chief Inspector Japp
Hugh Frase como Capitão Hastings



24 de jul. de 2018

Agatha, oh Agatha...




Ler é um dos meus maiores prazeres. Não me importo muito, como muita gente, em ler somente clássicos, o que é considerado “literatura”, mas adoro também os livros pipoca. Fantasias, romances, ficção, o que puder colocar minhas mãos, contanto que o escritor seja um bom contador de historias e seus personagens tenham personalidade.

 Dickens, Shakespeare, Stephen King, Alexandre Dumas, Jane Austin, Neil Gaiman, Arthur Conan Doyle, Edgar Allan Poe, J. K. Rowling, Raymond Chandler, Georges Simenon, Boris Akunin, Dashiell Hammett, Andrea Camilleri, Jodi Picoult, Meg Cabot, Janet Evanovich e talvez a mais importante Agatha Christie, são todos excelentes contadores de historias. Não são os únicos, mas os que me vem à cabeça nessa hora. Não importa o que escrevam sempre conseguem te envolver em suas tramas, seus dramas, suas excêntricas comédias e seus romances.

Lembro da primeira vez que li Dickens, David Copperfield, e como foi difícil passar as primeiras cinqüenta paginas. A todo o momento tinha que atirar o livro na parede (figurativamente, claro) de tão dolorosa era a leitura. David não sofria sozinho, eu estava lá ao seu lado e o não poder confortá-lo na sua infância odiosa me deixou em prantos.

Talvez seja assim que você reconhece um bom contador de historias, quando ele deita as palavras no papel elas passam para sua alma de uma maneira que é impossível não sentir cada percalço, cada sucesso e exultar quando finalmente o final feliz chega.

Dickens, Jane Austin e Stephen King, para mim, são os mestres, pois seus personagens são tão reais como o casal que mora ao lado ou a velha solteirona do segundo andar. Eles existem em sua vida, você já os conheceu com outros nomes, em outras cidades, em outras décadas.

Mas quem me levou a eles foi Agatha Christie.

Quando comecei a ler eram os romances do século passado, livros já gastos que minha mãe ganhara quando jovem. Para uma menina eram um mundo lindo e cheio de sonhos a serem tecidos. Tragédias, atribulações e finalmente o amor vencendo.

E então, em um fim de semana com Tia Hilda, sem ter o que fazer revirei suas estantes e me sentei em sua sala pequena e perfeita com um livro de Agatha Christie e meu mundo mudou.

Você não somente lê Agatha, você discute com ela, reclama das informações que ela escondeu para te impedir de adivinhar o assassino, ri de seus personagens ricos e tão freqüentemente hilários e se diverte imensamente com historias absurdas, mas incrivelmente perfeitas para você. E assim ela te leva a pensar que existem mais escritores e será que existirão outras Agathas?

E com ela vieram os outros e incontáveis dias e noites de prazeres e sofrimentos fictícios que me abriram os olhos para tanta coisa que ignorava no mundo.

Para muitos leitores é importante manter o prestigio de leitor somente tendo olhos para os Dostoiévskis ou Tolstoys, mas isso é uma tolice imensa. Você pode aprender muito lendo Harry Potter de J.K. Rowling, Bag of Bones de Stephen King ou My Sister's Keeper de Jodi Picoult. O que você ganha com um bom contador de historias é infinitamente belo e o leva a querer cada vez mais.

Essa foi a mágica que Agatha trouxe à minha vida e até o fim de meus dias serei grata a ela.

23 de jul. de 2018

O seio da questão ou a questão do seio




Tem algumas coisas que me incomodam e o debate sobre a amamentação em publico é uma destas coisas. Para mim, apesar de entender as motivações, nenhum dos lados luta pela coisa certa ou luta mostrando a coisa certa.

Amamentar seu filho é um ato dos mais belos e é ainda mais belo quando você vê uma mãe que o faz não só para nutrir, com impaciência e cansaço, mas com um sorriso que demonstra o quanto este elo invisível entre mãe e filho é importante para ela. É belo, sim, trás muitas vezes lagrimas aos olhos ver uma mãe neste momento frágil. E frágil é a palavra para mim.

Uma mãe não pode se prender à sua casa somente porque algumas pessoas acham que amamentar em publico é quase um ato pornográfico e temos muitas pessoas que pensam assim porque seus cérebros são esgotos e somente vêem o que de pior podem tirar de uma situação.

Dito isto, me pergunto... é necessário expor seu seio e sua criança a olhares maldosos?

Para você, no mundo em que seu filho é mais importante que tudo, e está faminto, nada importa, mas aquele sacana ao lado está de olho, está feliz pelo show pensando que nem precisa entrar na internet para ver algum peito nu.

E é ai que entendo quando aquela senhora de idade olha o espetáculo e diz que é uma vergonha, não porque é pudica, mas porque vem de uma época em as mulheres tinham mais respeito pelo próprio corpo. 

O que ela vê é a exposição desnecessária, o que uma fraldinha cobrindo o seu bebe e seu seio resolveriam em um segundo.

Já vi muitas mães amamentando e confesso que as que arrancam o peito para fora no vagão do metrô ou no meio da padaria me deixam profundamente desconfortável. Não pelo peito, entenda, mas pela atenção masculina que gera. Como mulher ver olhares lascivos apontados, mesmo que disfarçados, a uma mãe e seu bebê me irrita e constrange. A irritação vai para ambas as partes, mãe que não se protege e homens sem noção, e o constrangimento é como uma toalha molhada em qualquer lugar que isso acontece. Porque é desnecessário. Porque é expor um ato lindo para uma cambada de estranhos.

A briga aqui não deveria ser se você pode expor seu seio ao mundo. A briga deveria ser sobre você poder amamentar seu filho em qualquer lugar, em segurança e em paz.

Assim como as feministas de hoje que acham que a briga é sobre poder fica nua na rua ou dar pra quem quiser, a briga das mães perdeu seu rumo e sentido para mim.

Proteja seu filho. Proteja seu corpo. Não se exponha em um mundo com cada vez mais predadores sexuais. Exija seu espaço seguro. Faça seu espaço seguro. 

Essa é a guerra.