9 de jun. de 2015

A importância das coisas sem importância.





Passamos a vida buscando por grandes gestos. Seja um pedido de casamento, uma grande festa surpresa, uma declaração de amor em altos brados, uma grande promoção, esperamos muitas vezes inutilmente, nos esgotamos em esperanças vãs e decepções amargas.
O mundo virou essa grande competição pela melhor noticia pessoal em sua pagina do facebook. Vale tudo, almoço em restaurante famoso até detalhes íntimos que deveriam pertencer somente ao casal.
É o famoso esfregar na cara. Tanto a graça quanto a desgraça, porque percebo que para muitos a desgraça compartilhada é uma espécie de bônus também. Quanto mais pessoas se compadecerem e tornarem publico esse sentimento melhor. O importante é sentir-se importante quando o importante não deveria importar realmente.  
E ai chego nas coisas sem importância que deveriam encher suas prateleiras, mas quase nunca saem do fundo do armário. Coisas como simplesmente ter uma família, não a família que se reúne no  selfie para o facebook, mas aquela família que você observa silenciosamente agradecendo a Deus que ela existe. Aquela família que te dá o sentimento sublime de pertencer, de nunca estar só, mesmo quando gostaria de estar. E o faz em silencio, porque o sentimento é enorme demais par dividir.
Ou o fato de ao sair pra comprar um presente de aniversario para seu irmão e se emocionar com o fato de que são tão unidos e presentes na vida um do outro que escolher  o que lhe agradará sempre te leva a lembranças de horas, minutos, segundos de perfeita amizade.
Ou levantar no meio de um dia qualquer, rodeado pelos que ama, e cozinhar algo saboroso que demonstre o que sente. Doce e suave como o fato de que prefere lidar com a louça suja depois do que não ver o sorriso contente em seus rostos.
Ou o estar contente no meio da tarde com seus peludos fazendo graça enquanto você escreve as besteiras que passam pela sua cabeça.
Lembro de um dia escrever um post para o blog onde dizia que o grande gesto de amor não é o GRANDE, mas sim o não comer as ultimas batatinhas, pois sabe o quanto seu irmão gosta delas. E cada dia mais acredito nisso, pois cada grande gesto que vi na minha vida escondia uma decepção, mas os pequenos gestos sempre escondiam grandes sentimentos.
E é assim também quando leio as mensagem trocadas entre meus amigos da era vitoriana, quando tínhamos 17, 18 anos. São mensagens cheias de humor e carinho real. E cada mensagem que leio rio lembrando de nossos tempos em Mirandópolis, no postinho, no predinho....  Nada importante.
E assim é quando uma grande amiga liga somente para saber como estou. Nada importante, somente para dizer que apesar do tempo e distancia a amizade não evapora, somente fortalece.
E é assim quando aquela tia querida te visita, aquela que desde menina foi a única a te olhar com carinho real e passam o dia a falar do mundo como se este fosse um globo de neve. Onde dividem planos e sonhos e lembranças. Nada importante.
E é assim quando, no meio de uma crise que te arrasa, o já mencionado irmão te olha sorrindo e diz que tudo vai dar certo e você acredita porque enquanto estiverem juntos o resto não importa. Nada importante.
Não se enganem, leio todas grandes noticias, todas pequenas noticias, todas crises, de todos, mas me agradam muito mais as de pequenos gestos sem importância.

Para Aninha


Nos últimos dias li no facebook  a noticia da morte da mãe de uma amiga querida. Amiga de blog, amiga escritora, amiga do coração. Sua mensagem era tão singela, doce, cheia de aceitação e fé que chorei sem nem perceber. 
Era uma mensagem tão diferente das que lemos hoje em dia. Uma mensagem que confortava mais que pedia conforto, que informava gentilmente sem pedir atenção. Assim como a mulher, Ana Lucia Merege, era a mensagem doce, sem afetação, amorosa, bondosa e, apesar de dolorosa, cheia de carinho.
Como a mulher, Ana Lucia Merege, sua forma de lidar com o sofrimento foi bela, sua aceitação cheia de perfeita desolação.
Tem pessoas que nos orgulhamos por conhecer e eu me orgulho de conhecê-la, não pelos seus feitos, mas pela pessoa maravilhosa que é e ver como lidou com sua dor só aumentou minha admiração.
São pessoas assim que nos fazem chorar por elas, sangrar por elas e nos comover por elas.
Aninha, sua dor está no meu coração também. Deus te abençoe.