Você
percebe que o tempo passou de muitas formas. Quando jovem temos uma energia
imensa, uma necessidade de agarrar a vida pelo pescoço e apressá-la em seu
passo. Dormimos por longos períodos, recuperando o fôlego e quando acordamos
somos imediatamente tomados pela necessidade de descobrir novas formas de
galopar pela vida.
Lembro-me
como se fosse ontem de trabalhar por 12, 14 horas sem parar e ainda sair para
dançar, varar a noite, voltar a trabalhar por mais 10, 12 horas e no fim de
semana sucumbir ao sono, perdendo metade dos dias de descanso para Orfeu.
As
semanas eram intensas, muito trabalho, mas também muita diversão. Muito
raramente sentia meu corpo pedir por descanso e somente nos fins de semana me
permitia dormir sem freio ou alarme. Acordava às 2 horas da tarde para um
estomago roncando e a mente turva por algumas horas até consumir algumas
canecas de café.
O
tempo passa de muitas formas e você percebe isso quando vê seu corpo mudar.
Ganhar forma, depois ganhar massa, seu rosto afinar e depois encher novamente
com a idade, mas é na sua cabeça que a grande mudança acontece.
Tenho pena da Eu jovem, como ela se importava
com a opinião alheia, como se as pessoas não fossem capazes de odiar sem
motivo, de prejudicar sem provocação. Era em si mesma que buscava o motivo das
pessoas serem como eram e fazerem o que faziam, sem entender que ciúmes, inveja
e pura maldade moram em muitas pessoas com rostos compostos e felizes. Essa
busca interna por uma imperfeição que não existia só lhe trouxe problemas,
problemas estes que a levaram a tomar decisões erradas, tentar comprar o amor
das pessoas erradas e por fim se sentir errada em cada ato e pensamento.
Mas o tempo passa e sabemos que passa quando
olhamos pra trás e vemos que muito sofrimento teria sido evitado se tivéssemos nos
aceitado sem restrições, se não tivéssemos acreditado que outras pessoas
conheciam nossos corações melhor do que nós mesmos. No fim, tudo é um
aprendizado, nem sempre doce, nem sempre belo, mas um aprendizado que somente o
tempo fazendo o que sempre faz, caminhando inexoravelmente para o futuro, o faz
entender se melhor sem medo, sem terceiras opiniões e, por fim, quando sua
cabeça repousa no travesseiro, sabe que a pessoa que levanta de sua cama a cada
dia será sempre a mesma. Pode não ser uma pessoa perfeita, pode não ser uma
pessoa amada por todos, mas com certeza será uma pessoa que olhou para todas as
opiniões e viu que raramente estas estavam baseadas na realidade, mas sim na
frustração das pessoas que acham que podem apontar suas próprias falhas em terceiros.
Durmo pouco agora. Ás vezes acordo no meio da
noite e leio até o amanhecer. Já não tenho tanta energia, mas ainda faço o que
é preciso antes das costas doerem e as pernas falharem, não importa o que seja.
Caminho 5 km sem me cansar, apesar de ainda ficar com o rosto vermelho como
sempre fiquei, mas caminho sorrindo,olhando meu bairro, conversando com pessoas
que vejo todos os dias, mas que não disseram ainda seus nomes. Gosto de ao fim do dia encontrar a mim mesma e
descansar fazendo o que gosto, não o que esperam de mim. Não me incomoda a
solidão, apesar de amar muitas pessoas, não vivo para elas, mas sim em sua
companhia.
Tenho sorte em muitas coisas e nenhuma em
outras, mas isso é a balança sempre se equilibrando e pendendo a cada grão de
poeira que cai.
Quando o tempo passa, como ele sempre costuma
fazer, percebemos que no fim poucas coisas importam, mas das que importam
devemos cuidar com muito, muito carinho.
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