Acho lindo quando assisto filmes sobre escritores/as e esses se sentam
em suas mesas de trabalho com copos de vinho, bebericando enquanto enchem páginas
de contos maravilhosos.
Eu tentei... juro que tentei, mas depois de um copo eu começo a ver o mundo
muito cor de rosa, o que prejudica minhas histórias, que sempre têm toques de
suspense. Fico animada por alguns momentos, escrevo parágrafos enquanto rio de
minha esperteza. E logo durmo. O que escrevi tão feliz não me faz o menor
sentido quando acordo.
Acho o máximo quando vejo fotos de meus escritores/as favoritos e a
caixa com folhas lindamente impressas, uma por uma, dia a dia, de seus novos
best-sellers. Aquela pilha de folhas soltas me deixa mais excitada que Brad
Pitt nos seus melhores anos.
E eu tentei... Impressora ao meu lado, fui empilhando minhas páginas,
sorriso no rosto por estar, de algum modo, ligada por um rito aos meus heróis.
As folhas voam. Se espalham como se fosse alto outono. A bancada frente à
janela que tanto me inspira não é um bom lugar para minhas palavras, parece.
Coloco a pilha de bom tamanho longe de mim e, a cada página, tenho que me
levantar e entregá-la ao seu lugar. Faz calor. Ligo o ventilador. Não há um
lugar seguro para meu manuscrito. Desisto.
Fico animada escutando escritores dizendo como prepararam seus livros,
como planejaram seus arcos, nos seus cadernos cheios de anotações sobre seus
personagens. Fantástico!
Lá vou eu, me organizar e encher muitos cadernos, certo? Anoto
cuidadosamente as características, os arcos, nomes, idades... Estranhamente,
quando começo a escrever os personagens me mandam pastar e assumem a direção,
ignoram, com um gesto desrespeitoso do dedo médio, a personalidade que lhes
dei, e correm pelas páginas fazendo o que bem entendem.
Cada escritor acha seu jeito, seus ritos, não é possível forçar a mão e
a mente a seguir um rumo, não quando ambas estão de comum acordo e te levam,
mesmo que resista.
Eu gostaria de responder longamente se alguém me perguntasse sobre um
arco de um de meus livros, gostaria de dizer que planejei e estudei as
repercussões, mas não é assim. Não comigo. Certas coisas pulam para a página
sem pedir e eu as respeito e as deixo viver onde merecem. Fora da minha
imaginação.
Abraços
Andréa Claudia Migliacci
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