9 de ago. de 2017

Vista



15:36 hs
Quando o sol ainda está alto no céu os edifícios a minha volta são somente construções acabadas, ou mesmo inacabadas, onde sei que milhares de pessoas vivem. Alguns agradam aos olhos, cores e arquitetura agradáveis, enquanto outros parecem somente o que são, cascas para as vidas que carregam. Suas formas recortam o céu azul até onde minha vista alcança e olhando por cada uma de minhas janelas reconheço pontos amados de meu bairro e alem.
O que não vejo, a distancia, é vida. Vejo cortinas e persianas abertas ou fechadas, mas não vejo uma silueta. O sol ilumina o mundo e apaga os interiores fazendo o movimento das arvores mais belos, o canto dos pássaros mais melodioso e o ruído dos automóveis quase uma sinfonia.
É assim o dia. Grandes estruturas vazias cercadas por movimento, cor e som.


18:06 hs
Hoje o anoitecer não vem romanticamente pintado de rosa, ele chega cinza azulado, mas ainda belo. Enquanto olho as luzes começam a se acender. Em um edifício uma única luz solitária resplandece, em outro uma a uma as janelas se iluminam indicando que os habitantes ou chegam às suas casas ou não apreciam a escuridão como eu. As arvores, entre o mar de edifícios e eu, perdem a cor, algumas elevam seus galhos para os restos de luz, outras já foram consumidas pelas sombras e são um estudo de negros e cinzas.
Mais e mais as janelas se animam, as buzinas soam impacientes, todos se apressando nas ruas agora artificialmente iluminadas. Os pássaros voam nervosos procurando seus ninhos, os passos apressados na rua se multiplicam, o som dos martelos nas construções se cala e a noite finalmente chega.

23:19 hs
Centenas de luzes já se acenderem nas ultimas horas e mais da metade delas já se extinguiu. Dentro de suas casas, agora, as pessoas se preparam para deixar de lado o dia e se entregar ao sono. Os notívagos como eu se entregam aos seus prazeres secretos e esperam pela madrugada, quando a cidade encontra um pouco de paz e tranqüilidade.
E eu, olhando estas janelas ainda acesas, me pergunto quem são essas pessoas e o que fazem. Sentam confortavelmente com a família apreciando um programa na TV? Lêem um livro ou revista esperando o sono chegar? Entregam-se à paixão nos braços de um marido/esposa/amante? Ou será que estas janelas escondem desejos mais obscuros?
A noite me fascina. Os sentidos são amplificados e tudo a minha volta parece contar uma historia. Estas janelas que me fascinam carregam vidas por trás delas que podem ser normais como a minha ou podem ser dramáticas, até mesmo aterrorizantes. Nunca iremos saber o que acontece por trás das portas fechadas do que as pessoas consideram seu lar.

A madrugada chega trazendo a esperança que este dia seja um pouco melhor, que aqueles que sofrem possam encontrar soluções para seus problemas ou um ombro amigo para derramar suas lagrimas, que os que são felizes assim o permaneçam e que a que aqueles, que como eu, sonham acordados, continuem tendo historias para contar. 

Nenhum comentário: