29 de dez. de 2011

Edgar... Oh, Edgar...


Uma das coisas que amo em Edgar Alan Poe é a inevitabilidade de seus contos.  Por melhor que as coisas comecem você sabe que está viajando a caminho do desastre. Poe com certeza era um home cínico, sua visão do ser humano não era nada lisonjeira.  Talvez seja isso que me agrade tanto nele, pois também não tenho o ser humano de meus dias em alta conta.
O que me trouxe hoje a Poe foi uma conversa com Mano Urso (e como todas conversas com ele esta também me rende frutos), um comentário que me levou a procurar sua foto. Nunca um sorriso, nem mesmo uma calma aceitação. Sempre o rosto triste, os olhos fixos na câmera como a acusar a lente de sua melancolia.  E me pergunto quem terá sido realmente este homem que admiro, com que freqüência seus pesadelos se tornaram meu prazer em forma de seus contos e o mais importante, se escreveria por prazer ou para expulsar os demônios que enxergava em cada esquina.
Poe me rendeu mais arrepios de medo do que qualquer outro escritor. Desde pequena sempre amei filmes de terror e as adaptações de seus contos estão até hoje entre meus favoritos (principalmente quando podia juntar a prosa de Poe com a presença sempre magnética de Vincent Price). Foram os filmes que me levaram aos livros e deles um mundo novo se abriu para mim.
O macabro e o extraordinário tem seu encanto, é preciso ter um certo gosto para a coisa, eu admito, mas também é preciso admirar que alguém se dê tanto trabalho escrevendo algo que com certeza decepcionara a maioria dos leitores, sempre ávidos por finais felizes. Poe não tinha, acredito, esta necessidade de agradar, sua completa lealdade voltada sempre para a historia a ser contada, fielmente contada, da forma como se apresentara originalmente em sua mente brilhante.
Saudações, Poe.

28 de dez. de 2011

Mystery Road



Existem mistérios que nunca nos vão ser revelados enquanto andarmos com os olhos abertos demais, lúcidos demais, e para certas coisas é preciso ver de olhos fechados, escutando o as engrenagens do mundo se torcendo, ajustando, clicando no segundo que realmente importa, naquele segundo onde deveríamos estar atentos para os detalhes, para as pistas que nos indicam um futuro melhor ou simplesmente o caminho para momentos de puro prazer.
É preciso esvaziar a mente, sonhar acordado enquanto o mundo ainda gira à sua volta. Envolver a realidade em uma teia dourada, suavizando os contornos, mixando real e imaginário com perfeição e encontrando, assim, aquele  ponto no tempo e espaço onde mistérios se escondem. E então é somente preciso estender a mão...
Acredito que cada um tenha seus mistérios espalhados pelo caminho. É como um jogo, você tem que fazer o caminho certo para achar seus tesouros e quando os coleta sua força aumenta e uma pista importante para sua meta final é revelada.
Eu costumava mergulhar em meus sonhos quando acordada. Isso fazia meus dias mais leves. Era tão simples pintar a realidade de ouro, seguir as pistas até descobrir algo tão fantástico, algo que estava bem escondido dentro de mim mesma, revelado como por mágica, deliciosamente etéreo, simplesmente perfeito. Muitas vezes era somente um pensamento perdido, outras uma idéia para um conto vinda deste mundo paralelo, outras um sentimento esquecido, um amor relembrado, uma decisão finalmente tomada, um promessa para mim mesma, um desejo, um sonho.
Não parei de sonhar. Não. Mas parei de trançar meus mundos. Não há tempo. Não existe imaginação que sobre depois de um dia vergada sobre planilhas cheias de cálculos e problemas que caem como raios de todos os lados. E é preciso certa paz para se tecer mundos, é preciso audácia e um espírito livre. É preciso graça e humor e também um pouco de loucura.
E com alguns dias de férias eu já consigo novamente. Está bem a minha frente. Uma estrada aberta sem marcas, esperando que eu diga para onde, quando e a que velocidade quero ir. E eu me deixo levar, carregada pela brisa que faz dançar minha cortina, vôo sobre a cidade e antes mesmo de pegar a estrada eu já navego por ela.  Faltam alguns dias, mas eu já navego por ela e nesse delírio são eu sou mais feliz, pois estou somente revivendo o futuro e ele é feito de mistérios.
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15 de dez. de 2011

Ezio, amore mio....


Terças-feiras são reservadas para meu prazer secreto.
Dia de rodízio, ironicamente, começa mais cedo que o normal. Acordo apressada, arrumo a cama, checo a ração dos cães, troco a água dos peludos, corro para o banho, me visto confortavelmente e logo lá estou, trabalhando enquanto espero a hora de sair, escutando as noticias cabeludas que os noticiários de hoje em dia se especializam e tentando adiantar meu dia o máximo possível. Às 10 horas corro para o escritório e continuo em minha rotina como se estivesse competindo com o demônio da Tasmânia. Olho o relógio a cada momento e nas terças-feiras eu juro que o tempo parece ficar suspenso por períodos infinitos até que finalmente chega a hora de eu me dirigir ao meu destino.
Navego pelas ruas maldizendo meus colegas motoristas, mas sorrindo pois é quase hora de eu voltar no tempo e assumir minha outra identidade. Próxima parada: padaria. Nunca chego de mãos vazias, coisa que aprendi desde pequena e que me dá muito prazer. Sempre com algo gostoso para temperar a visita. Está terça foram palitinhos de queijo e presunto para o cafezinho e sorvetes para a sobremesa. A pizza é sempre ele que escolhe.
Paro o carro no que parece ser meu lugar cativo, sempre está lá quando chego. O zelador sorridente puxa conversa e eu danço no lugar, como criança com vontade de fazer xixi, ansiosa por subir. O elevador cada dia fica mais lento e eu cantarolo “Fuck you” do Cee Lo para ver se ele se toca e aumenta a velocidade. Finalmente estamos no 11° e eu saio do elevador como um pequeno tornado cheio de sacolas. Toco a campainha e rio sozinha quando escuto o som de seus passos. É como se um passarinho corresse sobre o piso laminado. A porta se abre e lá está ele. 1,90 de altura, uma porta alem da porta, o sorriso bonachão e caloroso e as palavras de boas vinda de sempre “oi, minha irmã!”
A rotina já se instalou, apesar de recente. Eu desensacolo as guloseimas enquanto ele liga a maquina de espresso. Vamos para a sala e largo meus trecos pela mesa enquanto ele liga os aparelhos. Trocamos impressões sobre o dia, reclamamos um pouco, rimos muito e ele volta para suas traduções me deixando à vontade para começar minha jornada.
Olho a tela e suspiro. É isso. Aperto o play e lá está ele. Ciao, Ezio, amore mio. Vamos começar a matança?
Não posso negar que estou completamente viciada em Assassins Creed, mas é mais do que o jogo. É a pausa para o café lá pelas 6, assistir Big Bang Theory eTwo Broken Girls enquanto comemos pizza e a volta ao jogo, agora com palpites de mano Urso que ri de meu jeito estabanado e impulsivo de jogar.
É mais que um vicio, sim. É minha noite semanal com mano Urso de que não abro mão por nada desse mundo.
Bom... Talvez pelo George Clooney...
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13 de dez. de 2011

Welcome!



E depois de mais de 10 anos Com o Pé na Cova eu agora monto um novo escritório, mais a minha cara hoje em dia. A piada da cova foi há tanto tempo que até me dói explicá-la hoje em dia. Perdeu o sentido e a graça. Wacky woman working é absolutamente EU.
Bem vindos a minha nova casa e a uma nova era de posts, espero mais prolíferos do que na cova dos últimos anos.
Que os amigos retornem, novos apareçam e eu tome vergonha na cara e volte a escrever com a freqüência de antigamente.

The grave is dead, long live the wacky woman!

Meu herói, meu bandido


Quando ele morreu eu rui. Não sabia o que ia ser de mim que tinha ele como estrela guia. Nunca foi um protetor, não era sua natureza, mas sim um palhaço, amigo, dançarino, colega de luta livre, parceiro de poker e muito, muito mais. Era sempre a alma da festa. A luz brilhante na noite. A alma calma em uma casa em chamas. O amor no meio do ciúme. Mas como disse, ele se foi.

No começo eu somente chorei. Foi mais do que perder uma pessoa. Foi perder aquele que sempre me amou pelo que eu era, mesmo que não soubesse exatamente quem eu me tornara. Eu era sua menina. SEMPRE.  O que me deixou, no começo não percebi como fardo. Nem mesmo percebi que havia me legado algo a não ser um punhado de fotos, sua carteira de motorista vencida e uma família em pedaços. Não pude esperar meu corpo e alma se recompor da perda sofrida, era preciso seguir em frente. Assim me foi ordenado por mão não tão macia. Era preciso prover, alimentar, cuidar, ser a mão que sempre se estende, ser aquela que nunca diz não, mas a quem é negado muito.

De herói ele aos poucos passou a bandido. Sua partida já não sentida, mas sim ressentida. Minha prisão era sua herança e eu nem mesmo podia gritar com meu algoz. Ele não estava mais a meu alcance. Daquele que eu amava pouco sobrou. Somente a maldita carteira de motorista vencida e um punhado de fotos que já não conseguia olhar.

Olho para trás e tenho saudades de amá-lo infinitamente. De vê-lo  por olhos mais inocentes e tímidos. De ainda imaginá-lo meu herói. Sei que nunca poderá me salvar. Minha torre foi construída alta e impenetrável. Parte dela eu mesma levantei. Foram os muros altos que me protegeram durante os anos duros, foram as paredes grossas que me mantiveram em pé num mundo repleto de decepções. Ainda estão frescos na minha memória momentos em que silenciosamente gritei com Deus por ter me roubado aquele que podia me proteger até um dia perceber que eu já era capaz de empunhar minha própria espada, vestir minha própria armadura e ser meu próprio herói. Talvez tenha sido o momento mais solitário de minha vida.

Pai, é hora de fazer as pazes. Já não o quero herói, mas também não o quero bandido. Quero poder somente amá-lo enquanto quebro as paredes da torre que já não pode mais me conter.

Com amor,
Sua filha, Andrea.
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The little bastard



Não é bem um bloqueio. É mais como um coagulo, uma maldita rolha alojada entre meu cérebro e a mão que traduz meus pensamentos. Às vezes sinto como se estivesse em compasso de espera, onde o momento que me carregará está sempre suspenso na droga da ampulheta congelada.
Não sei quantas vezes sentei em frente ao teclado tentando recapturar o momento onde perdi a vontade de escrever, não a inspiração, nem a imaginação, mas sim a vontade. Talvez seja medo de ver as palavras que amo desperdiçadas no cyberspace,  as historias perdidas nesse burburinho constante e sem sentido que engole até o mais coeso dos pensamentos.
Quero somente escrever novamente. É por isso que arrumo a mesa. Ajeito a cadeira. Abro a janela e deixo a brisa entrar e acariciar minha pele cansada. Encaro a tela e elas ainda estão lá. Palavras e mais palavras que fazem sentido sim, traduzem um milhão de sentimentos e mais, me ligam a pessoas que amo, amei e vou certamente amar.
Claro que o medo não vai embora assim rápido. Não é bicho de fugir ao primeiro contratempo. Ainda sussurra em meu ouvido “ninguém quer ler o que tem a dizer”, ainda pergunta sarcástico “de onde vem essa idéia de que pode escrever?”, mas eu dessa vez o ignoro. Me privei por tempo demais de gritar o que sinto em outras vozes, de dizer minhas verdades através da ficção. Dane-se o medo. Fuck off, little bastard!
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