Era uma vez uma comunidade que não era a melhor
comunidade, nem a mais prospera, mas era grande e seu povo tranqüilo e decidido
a fazer sua prosperidade se igualar ao seu tamanho.
Esta comunidade criava galinhas e durante muito tempo
conviveu com os ratos roubando os ovos, mordiscando as galinhas e às vezes até
roubando pintinhos. Era o que se esperava, era o normal e o conhecido, mas o
tempo foi passando e todos se impacientavam, pois apesar de prosperar não era
tão rápido como esperavam.
Para resolver o problema fizeram uma reunião para
decidir o que fazer.
“A culpa é dos ratos, se não houvessem ratos haveriam
mais galinhas e mais ovos.”
“Pode ser, mas não adianta discutir sobre isso sendo
que sempre haverão ratos.”
“Não se contatarmos as raposas e pedirmos que eliminem
os ratos. Podemos oferecer dividir o território com elas como fazemos hoje com
os ratos e elas cuidarão do problema para nós."
“Mas ratos são pequenos e se nós nos reunirmos e
acabarmos com os ratos ladrões, os outros terão medo e se comportarão.”
“Mas as raposas estão há muito tempo nos propondo
dividir o território. Nos prometeram cuidar do problema dos ratos e nos ajudar
a melhorar de vida.”
“Mas quem alimentará as raposas? Quantas virão?”
“Não importa quantas virão, nós que mandamos no território.
É nossa escolha, não é? Elas terão que se comportar como ordenamos.”
“Muito arriscado....”
Foi então chamada uma votação e as raposas ganharam
sua chance de dividir o território. Houve festa naquele dia, homens e raposas
felizes sonhando com um futuro melhor. No dia seguinte as raposas caçaram
alguns ratos, mas logo desistiram. Somos maiores, pensaram, e agora esse é
nosso território, deixe que os ratos fiquem com as migalhas que sobrarem.
Os dias passaram e em vez de progredir a comunidade
regrediu. As raposas, preguiçosas e finalmente parte do território convidaram toda
família para se banhar no lago, comer da comida do homem e dormir ao sol. Os
ratos, se aproveitando que as raposas não se importavam de dividir, contanto
que fossem superiores aos ratos em status, continuaram roubando ovos,
mordiscando as galinhas e roubando pintinhos.
As raposas, não satisfeitas com as refeições dadas
pelo homem, começaram a caçar as galinhas e quando indagadas sobre o numero
cada vez maior de sumiços elas culparam os ratos.
“Mas vocês não vieram para acabar com os ratos?”
Perguntou o homem irritado.
“Ah, não é fácil. O rato é esperto e mesmo nós, imbatíveis
e inteligentes raposas, não damos conta de todos eles. Não é nossa culpa. A
culpa é do homem que aceitou dividir o território com os ratos primeiro. Se
houvessem chamado as raposas desde o inicio já seriam ricos.” Disse a raposa
palitando os dentes com um osso de galinha.
E os dias continuaram a passar e o homem a empobrecer,
alguns já com os galinheiros vazios, vagavam pelas ruas sem saber o que havia
dado errado. As raposas ficaram gordas e confiantes e cada vez que o homem
reclamava elas rosnavam e o culpavam pela ruína da comunidade. Os ratos, não
tão gordos, mas ainda felizes com sua sorte, esperavam nas sombras o momento de
ganhar novamente a confiança do homem.
Com a comunidade quase em ruínas uma reunião foi
marcada e os homens se reuniram novamente.
“As raposas mentirosas estão gordas com nossas
galinhas, trouxeram toda família e agora nem mais disfarçam que estão mais
prosperas que nós. Os ratos continuam se alimentando sem interferência. Não
temos mais o que fazer!”
“Temos o elefantes.”
“Você está louco? Elefantes? Quem vai alimentar um
animal desse tamanho?”
“Eles não querem que os alimentemos. São animais que
prosperaram sozinhos e agora querem nos ajudar para que estas terras continuem férteis.”
“Duvido... Alguma coisa querem.”
“Eles querem que o mundo melhore. Se nossa comunidade
continuar a desmoronar a terra em volta também sofrerá. Sabendo disso eles nos
ajudarão contanto que não façamos mais acordos com os ratos ou raposas.”
“Não sei... acho suspeito. Não confio em animal que é
rico.”
“Eu tenho outra proposta. As hienas me contataram.”
“Hienas? Você ficou louco?”
“Elas são fortes e sanguinárias. Não teriam problema
em matar todos os ratos e raposas. Prometem-nos também que cuidarão do território
para que nenhum animal mais o invada.”
“Mas hienas não são confiáveis. Elas são más e odeiam
todos os outros animais. Quem nos garante que ela matarão somente os mal
intencionados?"
“E importa quem morrer contanto que nós vivamos?”
“Sim, importa. Não quero ser responsável pela morte de
animais inocentes.”
“Com a comunidade no estado que está eu não me importo
que aja derramamento de sangue se nos trouxer prosperidade.”
E assim foi votado e as hienas ganharam entrada no território.
Da noite para o dia as ruas ficaram encharcadas de sangue. Raposas e ratos
jaziam mortos por todo lado e os homens, horrorizados, se trancaram em casa
esperando o pior passar, mas parecia não ter fim. Qualquer animal que se
aproximasse da fronteira era caçado e despedaçado, mesmo aqueles que haviam
acabado de nascer.
Os homens foram arrancados de suas casas e ordenados a
trabalhar. A comunidade tinha que crescer e era obrigação dos homens fazer do território
um lugar feliz para as hienas.
A comunidade acabou isolada do resto do mundo, somente
as hienas sabiam o que se passava lá fora, ninguém mais sorria, ninguém mais tinha
coragem de tentar conseguir ajuda, seja dos elefantes ou até mesmo dos
rinocerontes, pois as hienas puniam a todos que não estivessem satisfeitos com
a vida que diziam ser perfeita para os homens.
As casas perderam a cor, os homens perderam o viço e
com o tempo toda estrada que levava a eles foi tomada pelo mato. As galinhas já não punham ovos e, portanto as
hienas as mataram por não obedecer suas ordens. Tarde demais os homens
perceberam que existem animais que gostam de sangue, gostam dos gritos de
terror e do medo que escorre pelos poros. Ainda tentaram se proteger, se barricar
em suas casas, cada um por si, mas as hienas eram fortes e não restava mais
nada para encher as suas barrigas.
Quando o ultimo grito do ultimo homem soou, as hienas
riram seu riso insano e partiram a procura de outra comunidade que acreditasse
que ódio e sangue eram o caminho para a paz.