15:36 hs
Quando o sol
ainda está alto no céu os edifícios a minha volta são somente construções
acabadas, ou mesmo inacabadas, onde sei que milhares de pessoas vivem. Alguns
agradam aos olhos, cores e arquitetura agradáveis, enquanto outros parecem
somente o que são, cascas para as vidas que carregam. Suas formas recortam o
céu azul até onde minha vista alcança e olhando por cada uma de minhas janelas
reconheço pontos amados de meu bairro e alem.
O que não
vejo, a distancia, é vida. Vejo cortinas e persianas abertas ou fechadas, mas
não vejo uma silueta. O sol ilumina o mundo e apaga os interiores fazendo o
movimento das arvores mais belos, o canto dos pássaros mais melodioso e o ruído
dos automóveis quase uma sinfonia.
É assim o
dia. Grandes estruturas vazias cercadas por movimento, cor e som.
18:06 hs
Hoje o
anoitecer não vem romanticamente pintado de rosa, ele chega cinza azulado, mas
ainda belo. Enquanto olho as luzes começam a se acender. Em um edifício uma única
luz solitária resplandece, em outro uma a uma as janelas se iluminam indicando
que os habitantes ou chegam às suas casas ou não apreciam a escuridão como eu.
As arvores, entre o mar de edifícios e eu, perdem a cor, algumas elevam seus
galhos para os restos de luz, outras já foram consumidas pelas sombras e são um
estudo de negros e cinzas.
Mais e mais
as janelas se animam, as buzinas soam impacientes, todos se apressando nas ruas
agora artificialmente iluminadas. Os pássaros voam nervosos procurando seus
ninhos, os passos apressados na rua se multiplicam, o som dos martelos nas
construções se cala e a noite finalmente chega.
23:19 hs
Centenas de
luzes já se acenderem nas ultimas horas e mais da metade delas já se extinguiu.
Dentro de suas casas, agora, as pessoas se preparam para deixar de lado o dia e
se entregar ao sono. Os notívagos como eu se entregam aos seus prazeres
secretos e esperam pela madrugada, quando a cidade encontra um pouco de paz e tranqüilidade.
E eu,
olhando estas janelas ainda acesas, me pergunto quem são essas pessoas e o que
fazem. Sentam confortavelmente com a família apreciando um programa na TV? Lêem
um livro ou revista esperando o sono chegar? Entregam-se à paixão nos braços de
um marido/esposa/amante? Ou será que estas janelas escondem desejos mais
obscuros?
A noite me
fascina. Os sentidos são amplificados e tudo a minha volta parece contar uma
historia. Estas janelas que me fascinam carregam vidas por trás delas que podem
ser normais como a minha ou podem ser dramáticas, até mesmo aterrorizantes. Nunca
iremos saber o que acontece por trás das portas fechadas do que as pessoas
consideram seu lar.
A madrugada
chega trazendo a esperança que este dia seja um pouco melhor, que aqueles que
sofrem possam encontrar soluções para seus problemas ou um ombro amigo para
derramar suas lagrimas, que os que são felizes assim o permaneçam e que a que
aqueles, que como eu, sonham acordados, continuem tendo historias para contar.